Texto completo em ZULIAN, R.W. A victoriosa rainha dos Campos. In: Revista de História Regional, v. 3, n.2, 1998. Disponível aqui. Acesso em 16/06/2009.
Assim, pretendia-se construir a idéia de um estado cujas bases seriam o progresso, a ordem e a civilização, um local privilegiado e atraente, com um futuro promissor. Quando se refere a Ponta Grossa, é essa a motivação de Raul Gomes: a construção da idéia de uma cidade que, como o Paraná, não é "ponto de passagem" e intermediação, mas um local com identidade própria, onde valeria a pena viver:
Num alto, situada no segundo planalto paranaense, em plena campanha, beijada por ventos contínuos, Ponta Grossa não é victima de variações climatologicas de consequencias fataes. O verão transcorre sem esses calores que suffocam e crestam tudo. Não há ali o horror das soalheiras, tornando insupportavel a vida estival. Assim, tambem, si o inverno é rigoroso, o frio que elle traz é secco, bom saudavel. Por isso aquelle povo é vigoroso, forte, com tonalidades soberbas nas faces transbordantes de saude. (13)
O habitante da cidade também se identifica com esse tipo de construção ideal:
O corpo possante, espadaudo, com musculos que parecem ferro nos dá idéa do dos americanos do norte ou dos paulistas. E não poderia ser por menos porque o meio faz ou adapta o homem ás suas circumstancias(sic). Um sabio que estudasse Ponta Grossa concluiria, sem conhecer o pontagrossense, por gisar, em traços inapagaveis, o seu typo inconfundivel.
A tonificação, o ar puro dos campos, infiltrado no organismo como uma therapêutica natural, entre outras consequencias, torna o homem de pulmões formidáveis.
Por isso é que a voz do pontagrossense é de um volume extraordinário e se distingue onde quer que seja ouvida.
Tambem ali, naquella terra admiravel, não se nos deparam pelas rua typos enfesados, esqueleticos, que mendigam com as mãos e com o olhar... A vida forte e rija jamais origina vagabundos: o indivíduo cujo sangue é vermelho e quente não sofre da preguiça que é filha do lymphatismo. (14)
E que ressalta o caráter empreendedor de seu povo, expresso na cooperação mútua e no trabalho:
A vida pontagrossense não differe muito da vida de nossas cidades. É uma vida de acção reflectida numa somma elevada de trabalho. O povo moureja afanosamente. Uma ancia de se tornar abastado o insufla dessa febre de actividade, desdobrada numa série de emprehendimentos dos mais notaveis, desde que nos coloquemos num ponto de vista de relatividade.
(...) o povo pontagrossense não se encastella num egoísmo aparentado da usura. Pelo contrario. Existe na população um pronunciado espirito associativo, que o leva a se unir e trabalhar sob o pallio de um mesmo pensamento de progresso e evolução sociaes. (15)
As notas referem-se a
(13) Jornal "O Progresso" nº. 589 de 23 de julho de 1912.
(14) Jornal "O Progresso"nº. 589 de 23 de julho de 1912.
(15) Jornal "O Progresso" nº. 591 de 25 de julho de 1912.
Que interessante esse meu interior primordial.
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