Infelizmente, devido a problemas de encanamento no apartamento, ando meio afastada das mobilizações na UNICAMP.
Mas não deixo de fazer minha panfletagem virtual, mesmo estando cada vez mais horrorizada com EAD. Rsrsrs...
O texto abaixo foi retirado do blog Mobiliza Unicamp, que já citei por aqui.
Abraços para tod@s.
Saudades de PG...
O Ensino à Distância na USP
CarosAmigos
Lincoln Secco (Professor do Departamento de História da FFLCH – USP)
Certa vez ouvi uma anedota que dizia mais ou menos assim: se Immanuel Kant
ressuscitasse em pleno século XXI, ele se espantaria com quase tudo, menos
com a escola. Ainda veria um professor, alunos, giz e lousa. Só agora
me dei conta que essa piada podia ter um conteúdo crítico. Afinal, por
que o ensino deveria ficar fora dos avanços tecnológicos que já dominam as
outras esferas da vida social?
O ensino à distância democratizaria o acesso à universidade a custo baixo
(sublinhe-se o custo baixo); acabaria com o ensino voltado somente para a
elite; e não seria aplicado indiscriminadamente (médicos e engenheiros
continuariam em ensino presencial).
Não precisamos perguntar por que uma maneira de ensinar mais barata serve
para formar professores e não para formar médicos. A resposta seria
evidente: professor é categoria que pode ser formada de qualquer jeito.
Também não é necessário indagar porque os alunos mais pobres (supostamente
beneficiados pela expansão das vagas de ensino à distância) merecem uma
forma no mínimo incerta de educação enquanto os supostamente mais ricos
continuariam no ensino presencial.
Talvez o problema não esteja na Univesp em si. E nem nos recusamos à
formação para o mercado. Na USP como em todo lugar, o aluno já é virtual
em si e por si mesmo. Ele é potencialmente uma mercadoria num mundo que é
uma imensa coleção delas. Ele será destinado a isso. Nossa diferença não é
gerar conhecimento crítico (embora o façamos), mas treinar para o mercado
os melhores produtores ou extratores de mais valia. Entre uma aula e
outra, às vezes questionamos isso tudo.
Numa Faculdade de Filosofia costumamos aprender que as formas de aparência
expressam não técnicas ou coisas, mas relações sociais. Por trás do
fetiche das técnicas, o processo ensino-aprendizagem continua a ser uma
relação social. Na sua etapa superior (e numa universidade de excelência
como a nossa) ocorre em salas de aula, laboratórios, hospitais etc. Mas
não só. Também nos gabinetes dos professores, nos anfiteatros, nos pátios,
nos cafés e lanchonetes, no bandejão, no Crusp, no ônibus lotado, na
piscina, nos corredores, nas plenárias e assembléias, nas festas, nas
greves, nos debates, nos seminários e congressos, nas rodas em que vicejam
as anedotas dos professores...
Como costumamos dotar a técnica mais nova de poderes mágicos, acreditamos
que ela pode substituir toda essa vivência.
Até o dolce far niente pode ser necessário ao estudante. Deitar na praça
do Relógio e ler Einstein, Keynes, Freud, Debord, Braudel, Darwin e outros
monstros pode (pasmem) ser uma experiência e tanto. Formar grupos de
estudos, comer e beber juntos, olhar nos olhos são atitudes que não podem
ser meramente “virtuais”.
Um exemplo: eu e alguns amigos jantávamos muito com o saudoso Professor A.
L. Rocha Barros, do Instituto de Física da nossa universidade. Ele contava
que um dia jogaram uma pedra na direção do aluno Fernando Henrique Cardoso
e Rocha Barros conseguira puxá-lo para si, salvando-o. “Como me arrependo
disso”, dizia o velho professor comunista jocosamente... Histórias como
essas desaparecerão para alunos formados à distância.
Talvez os idealizadores da Univesp tenham esquecido: a formação do jovem
não se resume ao conteúdo do ensino, seja numa sala de aula ou à frente de
um computador. Sendo uma relação social entre pessoas, mediada por uma
instituição como a nossa, negar às pessoas essa vivência universitária
seria o maior dos erros.
Não se nega que cursos de extensão, pós graduação lato sensu etc possam
ser à distância. Mas a formação básica na USP nunca poderá sê-lo. É
verdade que certas coisas se modernizam e supostos reacionários
empedernidos se agarram ao mundo perdido das escolas de Könisberg do
século XVIII. É mais ou menos como a mais velha relação humana: já existe
o amor virtual e há quem o prefira; mas é difícil acreditar que ele seja
melhor do que o concreto.
Eu juro que tentei fugir das questões políticas do movimento estudantil,
mas não consegui ...
FORA PM !!!!!
FORA SUELY!!!!
DEMOCRATIZAÇÃO DO PODER NA UNIVERSIDADE!!!!!
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