sexta-feira, 26 de junho de 2009

Adélia Prado

Fazendo um teste boboca na internet,descobri que o poema ideal para eu enviar pra ele em 12/06 era esse:

Casamento

Adélia Prado


Há mulheres que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque,

mas que limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como "este foi difícil"

"prateou no ar dando rabanadas"

e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva.


Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.

Eu já conhecia esse poema, mas não sabia que era da Adélia Prado. Ele fazia parte de uma pasta de poemas que minha mãe havia datilografado quando jovem. Minha mãe era secretária. Anos depois, eu digitei aqueles poemas todos, no computador. Mas antes disso, li e reli tantas vezes aquela pasta. Ela não existe mais.

Curiosa, procurei saber mais sobre Adélia Prado. E, claro, quase inundei o apartamento de tanto chorar.

Saiba por que aqui.

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