sábado, 28 de março de 2009

Zygmunt Bauman e os interiores virtuais

Enquanto eu não acho tempo para postar sobre a escola unitária do Gramsci, que está me deixando fascinada (criticamente fascinada, espero), aproveito para lançar lenha na fogueira da série: "o que estou fazendo faz sentido?", com a citação do genial, poético e amigo da Agnes Heller, Zygmunt Bauman:

Permita-me assinalar já neste estágio que os ‘grupos’ que os indivíduos destituídos pelas estruturas de referência ortodoxas ‘tentam encontrar ou estabelecer’ hoje em dia tendem a ser eletronicamente mediados, frágeis ‘totalidades virtuais’, em que é fácil entrar e ser abandonados. Dificilmente poderiam ser um substituto válido das formas sólidas – com a pretensão de ser ainda mais sólidas – de convívio que, graças à solidez genuína ou suposta, poderiam prometer aquele reconfortante (ainda que ilusório ou fraudulento) ‘sentimento do nós’ – que não é oferecido quando se está ‘surfando na rede’. Citando Clifford Stoll, viciado confesso em Internet, embora hoje curado e recuperado:absortos em perseguir e capturar as ofertas do tipo ‘entre agora’ que piscam nas telas de computador, estamos perdendo a capacidade de estabelecer interações espontâneas com pessoas reais. Charles Handy, teórico da administração, concorda: ‘engraçadas podem ser, essas comunidades virtuais, mas elas criam apenas uma ilusão de intimidade e um simulacro de comunidade’. Não podem ser um substituto válido de ‘sentar-se a uma mesa, olhar o rosto das pessoas e ter uma conversa real’. tampouco podem essas ‘comunidades virtuais’ dar substância à identidade pessoal – a razão básica para procurá-las. Pelo contrário, elas tornam mais difícil para a pessoa chegar a um acordo com o próprio eu.”


(BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, p.31).


Por isso que a escola não tem por que ser virtual, se tomamos como premissa que escola é espaço de constituição de identidades.

sábado, 14 de março de 2009

O interior da biblioteca

Só respondendo à Jéssica: se eu soubesse, ah, se eu soubesse... mas tenho umas ideias aqui rsrs...



A biblioteca é linda por definição. Interessante que seja circular, aliás, o prédio todo é circular, isso ainda me deixa meio perdida. Outro dia só que reparei que eram dois banheiros diferentes, um de cada "lado" do círculo. E eu achava que era sempre o mesmo.

Bem, a biblioteca. Linda por definição. Linda porque está cheia de livros. Mais linda ainda porque está toda pintada de branco.

E tem janelas, janelões, portas e portões.

Cadeiras estofadas e mesinhas com tamanho adequado para estudar.

E atrás dos janelões e dos portões... um jardim! Bem no miolo da biblioteca tem um jardim. Todo aberto, tem ar livre dentro da biblioteca. E lá também tem mesinhas e cadeiras estofadas. E um bebedouro. Dá pra ficar o dia INTEIRINHO lá sentada, estudando, ouvindo os passarinhos, as folhas e os aparelhos de ar condicionado.

A biblioteca parece uma flor.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Mudança

Depois de uma tarde em que houve competição em busca do troféu "Peixe fora d'água", algumas reflexões ficaram.

A professora Guillermina disse ontem que os adolescentes e as crianças vivem cercados de centenas de estímulos diferentes, na casa, em seu quarto e conseguem controlar todos eles. Quando chegam na escola, só tem um professor falando, a lousa e o giz.

Ótimo, sabemos que as mídias são importantes, são aliadas. Ok, usar as diferentes linguagens para ensinar. Concordo e tentei colocar em prática tudo isso.

Mas acho que às vezes esquecemos do mais importante. Se os alunos vivem o tempo todo grudados no orkut, MSN, manipulam bem seu MP9, produzem vídeos e os colocam no youtube, tocam algum instrumento, etc., etc., será que a escola não tinha o DEVER de oferecer outras opções para os meninos e meninas?

Não se trata de voltar a fazer o que sempre fez, porque ficar de blá-blá-blá estéril também não é bom.

Penso em olho no olho, debate, relação humana, diálogo, disputa de idéias, conversa, ajudar o colega do lado e ser ajudado por alguém que veio no quadro e errou a resposta de uma questão. Se estamos mesmo na tal "sociedade da informação", será que a escola não deveria ser a guardiã da troca HUMANA, do hábito prazeroso de passar horas debruçado sobre um texto e depois discuti-lo com alguém. De exercitar o cérebro em comunhão com os outros? De resolver um exercício matemático e verificar que seus colegas conseguiram por um caminho diferente do seu?

Tenho pensado muito nas relações entre o afetivo, o diálogo, a utopia e o transcendente. Não sei quase nada ainda sobre isso. Só me parece que a escola possa ser um núcleo de resistência nesse sentido.

Para isso? Professores que tenham em suas mãos o conhecimento acima de tudo, salas de aula com poucos alunos, espaços confortáveis para debate, leitura e busca de informações, flexibilidade de horários...

Acho que isso custaria menos do que aparelhar todas as escolas do Brasil com salas de informática. OU não, pois turmas menores demandariam mais espaços. Mas nada de ficar construindo salas de aula em formato de cela de prisão. Chega de escolas-presídio. Se as escolas fossem construídas e mobiliadas em torno da premissa de que temos de estar confortáveis para sentar, ler, movimentar nossas cadeiras em direção aos diferentes colegas e debater, além de buscar informações nos mais diversos meios, acho que seriam muito melhores.

Ah, a utopia. Não sei se o blog era o lugar pra isso. Só um desabafo. Falo demais.

terça-feira, 3 de março de 2009

Primeiro dia na escola

No momento em que escrevi esse post, eu não estava com o note por perto, então fiz anotações numa folha e estou transcrevendo do jeito que está lá.

Estou tomando chá na cantina que fica na esquina das ruas Sergio Buarque de Hollanda e Elis Regina. Fantástico.

Levantei cedo e caminhei, bem devagar, pela ciclovia que liga a pracinha onde moro até a UNICAMP. Coloquei coisas demais na bolsa, mas agora é tarde para me arrepender. Pretendia tirar algumas fotos (e postar aqui), mas a câmera não quis funcionar. Deve ser a pilha.

No caminho, restaurantes chiques, cursos de línguas, muitas árvores grandes, cigarras e goiabeiras.

Cheguei cedo para poder ir a Biblioteca e ao RU (comprar créditos para o almoço), mas ambos só abrem as 9h. E agora devem ser umas oito e meia.

Muitos estudantes caminham de um lugar a outro, muitos com bermudas e saias, pois ontem fez um calor insuportável. Hoje está nublado, espero que chova para eu não me arrepender por ter carregado a sombrinha.

A minha frente estão o Teatro de Arena e a Praça do Ciclo Básico. O teatro é meio pintado, meio grafitado. A caixa d'água tenta imitar um arco-íris, jamais conseguirá. A praça tem grama e árvores.

A Biblioteca... não vejo a hora de entrar lá e sair com um livro na mão. Ou dois. Gramsci, certamente.

Lá fora dos portões, parecia um acampamento de ciganos. Mas eram inúmeras barraquinhas de gente vendendo todo tipo de coisa. Vi de longe. Uma barraquinha chamou a atenção. Muitos e muitos potinhos na banca. O que será que ela vende? Cheguei a conclusão de que é potinho mesmo, tipo tupperware (topoé). Como na história da velhinha contrabandista.

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Questão interessantíssima pescada na palestra de hoje: Todos sabem que o Estado não investe em Educação o suficiente. A pergunta é: se investisse, o que aconteceria?
A palestrante era a Prof. Dra. Guillermina Tiramonti - FLACSO/ Argentina.

domingo, 1 de março de 2009

Quem sabe isso quer dizer amor

Quem sabe isso quer dizer amor

Composição: Márcio Borges e Lô Borges

Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo à frente do sol
Abri a porta e antes de entrar
Revi a vida inteira

Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois
Sinais de bem, desejos vitais
Pequenos fragmentos de luz

Falar da cor dos temporais
Do céu azul, das flores de abril
Pensar além do bem e do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu
O mundo lá sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer

Pensei no tempo e era tempo demais
Você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça

Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia já clareou
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar

Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você
O mundo lá sempre a rodar,
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer

Há uns três anos essa música veio num CD despretensioso... ou pelo menos era o que eu pensava.
Feliz aniversário.