A menina acorda. Talvez seja a hora, talvez não.
Abre os olhos devagar. O quarto não tem janelas, mas entra luz pelo corredor.
Olha para os pés da cama. Tem algo lá. Algo escuro e pequenino.
Uma aranha. Sim, é uma aranha. Ela está lá, nos pés da cama, olhando para a menina.
Medo. A aranha é grande, mas não se move. A menina tampouco.
A aranha espera, observa. A qualquer momento, ela pode correr para cima, atacar. Ela pode pular, também. Qualquer movimento pode precipitar o bote.
Chamar a mãe. Em pensamento: "mãe, mãe, venha aqui. Tem uma aranha no meu pé". Só em pensamento. Ela não fala. Nem grita.
O aracnídeo continua imóvel. Dormindo? "Mãe, mãe... uma aranha em cima do cobertor. Venha logo, mãe!".
Por que ela não chama?
Certamente, não é a primeira vez. Das outras, ninguém viu aranha nenhuma. É só medo. "MÃE!".
Desejo de acordar com proteção e segurança. Desejo de ser alguém. Um abraço, mãe.
A menina salta da cama, sacode as cobertas, aranha nenhuma, viu?
Pronto. Não precisava chamar ninguém.
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