domingo, 22 de abril de 2012

Blues

Então chegou o fim de uma semana difícil.

Caminhada no fim da tarde. Música boa, músicos bons, companhia perfeita para a sensação de dever cumprido.

Feliz com a música e as comidinhas da quermesse da São Dimas.

Pela primeira vez, desejei partir mais tarde. Depois, para eliminar seu medo, segurar sua mão. Como temer algo que desejo?

quinta-feira, 8 de março de 2012

Presa da raiva

Hoje precisava tanto falar com você da raiva represada, das coisas que eu queria (devia) ter dito.

A raiva ficou presa. Às vezes ela sobe, parece que domina, mas vem de todos os lados o conselho prudente: "não vale a pena".

Acontece que com você eu poderia falar tudo isso. Você iria entender. Passou por situações semelhantes, até piores.

Eu poderia dizer a você o que só pensei duas ou três horas depois, como sempre acontece. Talvez você me explicasse porque eu só sei brigar com quem eu gosto de verdade. Por que razão imbecil (existe isso?) eu não consigo reagir à altura quando me sinto agredida.

Talvez,  nessa conversa que nunca acontecerá, por fim nos identificássemos como mulheres, como iguais. Talvez você desistisse da sua desistência em ser feliz. E eu enxergasse com mais clareza a ânsia de ser livre, apesar de escolher o amor.

Será que, ao contar esse fato tão mesquinho, eu choraria diante de você? Será que nos abraçaríamos, solidárias aos sofrimentos de mulheres pretensamente independentes? Não creio...

Conversaríamos, racionalmente. A raiva sairia pelas palavras. O consolo viria da razão, não do abraço.

Você é a única mulher no mundo a quem eu poderia contar o que aconteceu.

Desta vez você não veio nos meus sonhos. Chegou na hora certa, no dia, na lucidez. A falta foi palpável, visível, dolorida.

É fim de tarde, todas as linhas dizem a mesma coisa, a raiva prende. E eu não posso falar com você.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Mr. Sandman

A menina acorda. Talvez seja a hora, talvez não.
Abre os olhos devagar. O quarto não tem janelas, mas entra luz pelo corredor.
Olha para os pés da cama. Tem algo lá. Algo escuro e pequenino.
Uma aranha. Sim, é uma aranha. Ela está lá, nos pés da cama, olhando para a menina.
Medo. A aranha é grande, mas não se move. A menina tampouco.
A aranha espera, observa. A qualquer momento, ela pode correr para cima, atacar. Ela pode pular, também. Qualquer movimento pode precipitar o bote.
Chamar a mãe. Em pensamento: "mãe, mãe, venha aqui. Tem uma aranha no meu pé". Só em pensamento. Ela não fala. Nem grita.
O aracnídeo continua imóvel. Dormindo? "Mãe, mãe... uma aranha em cima do cobertor. Venha logo, mãe!".
Por que ela não chama?
Certamente, não é a primeira vez. Das outras, ninguém viu aranha nenhuma. É só medo. "MÃE!".
Desejo de acordar com proteção e segurança. Desejo de ser alguém. Um abraço, mãe.
A menina salta da cama, sacode as cobertas, aranha nenhuma, viu?
Pronto. Não precisava chamar ninguém.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Vento

Se eu saltar, as asas se abrirão?


Antecipo o vento no rosto e o fim pouco importa.

Eu queria abraços, mas eles prendem.

A solidão é livre.

"O amor é feio"

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Caminhos abandonados

Hoje pela manhã: "se nada der certo, se eu ficar muito frustrada, mudo de profissão".

Não tem vergonha, aos 30 anos de idade ainda não sabe o que fazer?

Ele quase caiu da cadeira.

Eu sorri e disse que era brincadeira.

Ele sorriu e disse que ia dar tudo certo. No final, eu iria me orgulhar do que fiz.

Falei descontroladamente sobre isso ontem à noite. E outro dia sonhei que pilotava a moto.

Ela chegou de mansinho e disse que eu não tinha mãe, mas que ela ia cuidar de mim. Às vezes ela solta as asas e faz voar. Outras, amarra com força e obriga à humildade.

Sei que sempre quero estragar, quando tudo está bem. Simples assim.