quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Por que esse blog

Nasci bem no meio do caminho. Isso mesmo, no meio do caminho das tropas fica Ponta Grossa, a princesa dos Campos Gerais. Cidade que alguns consideram a grande metrópole do interior do Paraná, embora esteja próxima demais de Curitiba para receber maior status - e longe o suficiente para acumular dois pedágios na estrada de uma até outra...

Enfim, longe e perto demais das capitais. Muita gente vai até São Paulo quase todo mês pra fazer compras na 25 de março. Dá pra ir e voltar em pouco mais de 24 horas, dormindo no ônibus. E volta-se com as sacolas cheias de roupas da moda, bolsas e colares de bola.

Nas férias de verão muitos viajam até Balneário Camboriú, também não fica assim tão longe. Quando eu era criança, íamos quase todo ano. Depois virou badalação e desistimos. Mas não era difícil ouvir meus pais comentando, enquanto eu tentava moldar um Pluto na areia com a minha forminha de plástico: "Olha lá, não é o senhor Fulano?". Um pontagrossense, claro...

Como vivemos num importante entroncamento rodoferroviário, não é difícil encontrar nossos conterrâneos por aí. Uma vez ouvi de uma colega de trabalho que foi cumprimentada em pleno estado do Amazonas por alguém que reconheceu, no carro dela, o adesivo do colégio onde trabalhamos. Ou trabalhávamos.

E eu, assim como quase todo pontagrossense da minha idade, sempre quis percorrer mais do que os velhos caminhos de tropas e seguir pelo mundo todo. Já planejei viajar de mochila até o Peru e conhecer o tal trem da morte, já quis pegar carona de caminhão até o Amapá e voltar pelo litoral, mas nunca fiz nada disso. Nem sei se vou conhecer um dia o Amapá.

Com tanto querer partir, acabou que em 26 anos habitei sempre na mesma região de Ponta Grossa. Até agora.

Por duas vezes na vida tentei mudar minha vida para o mais apaixonante grande centro do Brasil, o Rio de Janeiro. E nas duas vezes esses planos falharam, mas outras coisas boas aconteceram.

Desta vez, consegui sair de Ponta Grossa. Mas não do caminho das tropas, nem do interior. Vou estudar em Campinas, mas moro em São José dos Campos. A persistência dos campos nos lugares que vivo intrigou. Três cidades tão semelhantes e tão diferentes ao mesmo tempo. Por isso resolvi escrever a respeito, para refletir sobre esses campos e interiores com os quais construo cotidianamente relações de amor e ódio. A idéia é escrever sobre as cidades, cenas e sensações que vivo. Mas também valem pensamentos sobre interiores mais profundos, meu ou dos outros, o blog funcionando como o divã que não posso e não quero pagar.

Pois é, deixei Ponta Grossa (daqui pra frente, denominada PG), mas não mais com a ânsia e o alívio que eu imaginava nos tempos de adolescente tardia. Deixei deixando muita coisa pra trás, com aperto no coração, lágrimas que até agora não caíram direito. Sem despedidas, pois eu logo volto, duas, três semanas eu apareço. Um pouco de culpa pelo restinho de família que ficou pra lá, saudade que já não tem mais o que fazer...

E as ruas que conheço bem, cada buraco na estradinha de terra até chegar em casa, como explicar onde fica??? Deixa que eu te espero na Toyota, aí você aprende. Ou pra quem eu não queria assustar: Sabe o Clube da Lagoa? Pois é, lá perto... E pra assustar: "Pertinho do cadeião da Santa Maria". eheheheh. E as cachoeiras? As Araucárias? As festas de Igreja? O mercado que conheço de cor? A moça da farmácia que cumprimenta meu pai como uma visita constante?

Acho que isso merece uma postagem exclusiva. Por enquanto, que se registre - o blog é um pouquinho irônico sim, mas também saudosista, flertando com o bairrismo e bastante egocêntrico. Se porventura alguém ler, espero que se divirta.

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