quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Um pouco de São José dos Campos

Eu planejava escrever primeiro sobre PG, que conheço melhor. Mas como São José dos Campos (daqui pra frente, SJC) me deu um presente ontem, vou falar sobre ela.

Ontem Haroldo e eu saímos para correr no Parque Santos Dumont à tardinha, da mesma forma que fizemos segunda feira. Segunda estava garoando, então corremos só um pouco e na volta passamos na frente de um coqueiro, com muitos coquinhos pelo chão. Comentei com Haroldo que, quando eu era criança, tinha um coqueiro perto da oficina do meu pai. Meu irmão e eu nos esbaldávamos. Nossa, como era bom, deu saudade do gosto, do cheiro, da textura, da sensação nas mãos, das fibras que ficavam nos dentes. Que vontade de comer coquinho... O Haroldo perguntou se a vontade de comer coquinho era igual à vontade de comer jaca. "Não, jaca eu nunca comi, só quero experimentar". Mas a vontade de comer coquinho é quase antropofágica. É como comer a própria saudade.

Bem, ontem então voltamos ao mesmo lugar. Corremos pelo parque que é lindo. Tem um jardim japonês, com ponte, carpas e tudo, além de carcaças de foguetes e aviões em que as crianças tiram fotos. Ao lado fica o SESC, e não tem muros, dá para ver as crianças que estão no parque do SESC brincando. Um garotinho de uns 4 - 5 anos brincava de se equilibrar em uma rede de cordas e pensava. Aí ele falou: "Mãe, mãe. Você já imaginou um livro com três histórias?". Foi automático Haroldo e eu nos olharmos e rir... que raciocínio!! O que será que passava na cabecinha dele ao imaginar... puxa!!!! Um livro com três histórias!!! Se com uma é bom, imagina três... É o tipo de coisa que nos faz amar a vida um pouco mais.

Depois do exercício e do alongamento, voltamos calmamente pela mesma rua. E passamos pelo mesmo coqueiro. Que deixou cair um coquinho exatamente naquele instante, bem na nossa frente! Foi um presente do coqueiro pra mim! Será que ele ouviu o que eu tinha dito?

Claro que foi só uma coincidência... mas que adorável coincidência.

Cheguei em casa, lavei e comi o coquinho. Já estava meio fibroso, mas doce, perfeitamente doce.


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Frase do dia: Nunca acredite quando um fogão lhe diz que é autolimpante.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Por que esse blog

Nasci bem no meio do caminho. Isso mesmo, no meio do caminho das tropas fica Ponta Grossa, a princesa dos Campos Gerais. Cidade que alguns consideram a grande metrópole do interior do Paraná, embora esteja próxima demais de Curitiba para receber maior status - e longe o suficiente para acumular dois pedágios na estrada de uma até outra...

Enfim, longe e perto demais das capitais. Muita gente vai até São Paulo quase todo mês pra fazer compras na 25 de março. Dá pra ir e voltar em pouco mais de 24 horas, dormindo no ônibus. E volta-se com as sacolas cheias de roupas da moda, bolsas e colares de bola.

Nas férias de verão muitos viajam até Balneário Camboriú, também não fica assim tão longe. Quando eu era criança, íamos quase todo ano. Depois virou badalação e desistimos. Mas não era difícil ouvir meus pais comentando, enquanto eu tentava moldar um Pluto na areia com a minha forminha de plástico: "Olha lá, não é o senhor Fulano?". Um pontagrossense, claro...

Como vivemos num importante entroncamento rodoferroviário, não é difícil encontrar nossos conterrâneos por aí. Uma vez ouvi de uma colega de trabalho que foi cumprimentada em pleno estado do Amazonas por alguém que reconheceu, no carro dela, o adesivo do colégio onde trabalhamos. Ou trabalhávamos.

E eu, assim como quase todo pontagrossense da minha idade, sempre quis percorrer mais do que os velhos caminhos de tropas e seguir pelo mundo todo. Já planejei viajar de mochila até o Peru e conhecer o tal trem da morte, já quis pegar carona de caminhão até o Amapá e voltar pelo litoral, mas nunca fiz nada disso. Nem sei se vou conhecer um dia o Amapá.

Com tanto querer partir, acabou que em 26 anos habitei sempre na mesma região de Ponta Grossa. Até agora.

Por duas vezes na vida tentei mudar minha vida para o mais apaixonante grande centro do Brasil, o Rio de Janeiro. E nas duas vezes esses planos falharam, mas outras coisas boas aconteceram.

Desta vez, consegui sair de Ponta Grossa. Mas não do caminho das tropas, nem do interior. Vou estudar em Campinas, mas moro em São José dos Campos. A persistência dos campos nos lugares que vivo intrigou. Três cidades tão semelhantes e tão diferentes ao mesmo tempo. Por isso resolvi escrever a respeito, para refletir sobre esses campos e interiores com os quais construo cotidianamente relações de amor e ódio. A idéia é escrever sobre as cidades, cenas e sensações que vivo. Mas também valem pensamentos sobre interiores mais profundos, meu ou dos outros, o blog funcionando como o divã que não posso e não quero pagar.

Pois é, deixei Ponta Grossa (daqui pra frente, denominada PG), mas não mais com a ânsia e o alívio que eu imaginava nos tempos de adolescente tardia. Deixei deixando muita coisa pra trás, com aperto no coração, lágrimas que até agora não caíram direito. Sem despedidas, pois eu logo volto, duas, três semanas eu apareço. Um pouco de culpa pelo restinho de família que ficou pra lá, saudade que já não tem mais o que fazer...

E as ruas que conheço bem, cada buraco na estradinha de terra até chegar em casa, como explicar onde fica??? Deixa que eu te espero na Toyota, aí você aprende. Ou pra quem eu não queria assustar: Sabe o Clube da Lagoa? Pois é, lá perto... E pra assustar: "Pertinho do cadeião da Santa Maria". eheheheh. E as cachoeiras? As Araucárias? As festas de Igreja? O mercado que conheço de cor? A moça da farmácia que cumprimenta meu pai como uma visita constante?

Acho que isso merece uma postagem exclusiva. Por enquanto, que se registre - o blog é um pouquinho irônico sim, mas também saudosista, flertando com o bairrismo e bastante egocêntrico. Se porventura alguém ler, espero que se divirta.