quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sem título

Quando nada mais resolve, o melhor é escrever.
Parece que tudo passou
Passou?
Já passou, já passou, pronto...
Não era assim que ela nos consolava?
Quem secará suas lágrimas?
Quem ajudará a escolher a roupa para o casamento da sua melhor amiga?
Ontem eu vi como a Hannah Arendt trata da memória e da lembrança
É belo

Colegas, escola, biblioteca, casa nova
Que vida boa a sua
Que belo futuro
Como as cabeças combinam

Mas a memória, o que passou, passado
Nunca vai passar?
Quem vai enxugar as lágrimas?
Quem vai consolar?
Desligar-se dos vestígios é um bom começo
Mas como desligar-se da própria memória?
Como evitar as viagens noturnas?

Bastam algumas palavras
derrete o gelo que plantei na memória e no coração
derrete e escorre
pelos olhos
pelo pescoço
pelos pulsos

a pequena corrente é ainda transparente
ela corre pelo meu pulso
e abaixo dela posso ver
finos caminhos
azulados arroxeados
há vida neles
há vida?

o calor destes campos tudo seca
uma despedida tranquila da cidade mais quente em que já vivi
geladeira desligada
pacotes e embrulhos pelo quarto
o que fica? o que vai?
eu escolho e esqueço
mas não escolho o que esqueço

súbito tudo calmo
olhos quase secos
a vida segue, mudanças suaves, boas
um pedaço ficou naquela casa
Santa Casa
e não encontra a porta de saída